domingo, 5 de julho de 2015

falar é uma deliciosa loucura
e a comida começa
no pensamento

 o som que enche a palavra
vento é o próprio vento
espírito


o sopro cria acontecimentos, carne
divina & dançante na sabedoria
espontânea do corpo mamífero

e não há tristeza caolha filha do coice
da mente que derrame cianureto suficiente
para calar o batismo do batuque dos ossos
e subi no ônibus e sentei do lado de uma senhora ruiva, uns 60 anos. sem tempo nem de guardar as moedas do troco no bolso, ela disparou pra mim:

 - político é tudo ladrão! e essa dilma é a pior. no meu tempo as ruas eram seguras e nossa dinheiro valia muito mais. o governo agora fica com tudo que produzimos. é imposto em cima de imposto e grrr e argh e blá e uuuuuuu ...

e foi metralhando seu texto até que disse:

- ninguém aguenta mais tanto tributo!

meio tonto, só consegui dizer:

- porra, bote fé! eu mesmo só gosto do tributo ao black sabbath!

e gargalhei feito doido, me levantei, aproveitei que alguém havia pedido parada, desci. fora do ônibus pude notar a senhora lançando seu olhar "é o fim dos tempos" pra mim, que continuava gargalhando com a própria piada ruim.
você descascando limão debaixo do sorriso da lua,
o aprendizado contínuo da lentidão, a barriga imensa
das noites tristes, um pedaço de fígado pendurado
nos dentes de vidro da estátua verde do big kahuna

 você acenando para discos voadores, aparando a barba
da mansidão banguela, a voz do ventríloquo pedindo
um pouco de tequila, duas clavículas encharcadas
de lágrimas e milagres, o sol velhinho na hidroginástica

você mascando tabaco, macerando as folhas de manjericão,
o encontro dos sapatos com as tartarugas num jogo de pôquer,
as dúvidas tirando um cochilo na calçada, pernas batendo papo
com o vento feiticeiro e meus ossos repetindo o mantra:

wakin in the dawn of day, don't know why i ever go away.