sexta-feira, 19 de junho de 2015

poema de chico xavier


pois eu estava mergulhada
no estômago de animais
que nos mastigaram

bocas sujas, planeta azul
das trevas, as dúvidas, espíritos
rebeldes, filmes de horror que assisti.

memória, labirinto hipnótico.
memória, minotauro-tuareg.
memória, lábia do olho cego.

insetos e anfíbios: tudo fica
registrado num diário, num delírio.

milhares de outros seres
despertos com música, sementes
depositadas na roda-gigante.

lesões, comunidade.
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- texto escrito a partir de arranjos
da suposta carta psicografada de cássia eller
ouro dentro da escuridão
se a gente morre por aqui
não encontrarão nem a alma

as palavras perdem seu peso
na figura do aviador


e a bicicleta ultrapassa
o milagre, vacas diminutas
de olhares sonolentos

e foi só por isso que vieram matar
e foi só por isso que disseram no meio do mato

se algo estiver escondido lá na sujeira do coração
e você o desenterrar, é seu também, é você.
deita aqui na lama
comigo, teu nome
não me cansa, pés
quase sempre pensam
mais que a cabeça
e merecem cafunés


 deita aqui na lama
está um dia tão bonito:
um jambo, sombra e sapo
e eu já nem sei do grito
para anjos e ar-condicionado

deita aqui na lama, cristo
não é um cachimbo
estamos definitivamente
dentro da deriva, o amor
é nu e multiplica a alegria
incontrolável do encontro

we're only for the honey, mel
do melhor, estamos nesta
pela conversa, não conversão
caos-pizzaria, você disse alimentando
os peixes que se multiplicavam
debaixo das barbas das profetas
indianas fãs de heavy metal & loucas
por noites de apneia & levitação
eu cuidava de fazer vitaminas
de abacates para cobrir a ferrugem
da coleção de alicates de vovô & derramar
doses cavalares de conhaque nos cactos,
nos cascos dos jabutis, nas costas
de nossa irmã anã massoterapeuta
vovó descascava manga com sua katana
iluminada pelo lado escuro da lua & nua
cuspia pregos nos sapatos coloridos
& enormes de seu amante cego