sábado, 11 de abril de 2015

dizemos água e continuamos
com sede, o banho de chuva
ácida não lava nossa alma
mas expõe todos os ossos

 há um enigma cabisbaixo
surfando em nossas lágrimas
há um milagre moribundo
impregnando nosso suor

nossas salivas não salvam
os oceanos de merda e plástico
tartarugas morrem todos os dias
sufocadas no horror de nosso sangue

não há líquido amniótico suficiente
para proteger os nascimentos dos rios
e não adianta andar sobre as águas
ou então transformá-las em vinho

enquanto não renovamos a seiva
de nossa medula mergulhando
plenamente na lama e no lodo, diluindo
nosso egos nas águas subterrâneas

dizemos água e continuamos
uns animais cheios de esquiva
esquecendo nossa origem aquática
e uma ética molhada para estes dias

Nenhum comentário: