sábado, 29 de março de 2014

sísifo, lavador de pratos

não há pedras para carregar
para o alto da montanha
todas as manhãs. apenas
uma pilha de louça suja,
uma bacia com água suja,
esponja cheia de bactérias.

não há coleira para prender
a morte junto ao poste da CELPE.
(dois cozinheiros já morreram
encostados nos fios desencapados)

sísifo lava as facas, as facas,
as facas e nunca leva a ideia adiante.
no intervalo acende um cigarro e observa
a gordura gordura gordura que entope o ralo.

lavar pratos não é trabalhar com limpeza.
apenas transferência, a imundície vai
de um lugar para outro. ouro é tolice
nos dentes do morto e na cozinha
assobios não escondem os guinchos dos ratos.

sísifo, lavador de pratos.
todas as manhãs
retorna.

não há sentido em lavar pratos,
levar nuvens no bolso.

o osso
compreende a vida ao máximo.

sísifo, se fu
deu.

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