descanso todo dia
e à noite perambulo
como um bacurau
catando insetos.
uma sugestão:
santificada seja
a escuridão.
respondo aos olhos
estranhos tranquilamente.
contemplo minha abolição
com a coragem sutil de um sábio.
aparência de raiva, estes são versos
de atenção amorosa e paciente.
jovens e velhos autoritários
são formas da tristeza mais cruel.
outra vez como um pássaro:
tudo vejo, voando.
mente serena, levo no coração
a consciência que amanhece.
qualquer coisa que escapa, um tipo
de loucura incendiando automóveis.
chuva ácida, psicodélica e doce
quando o céu acaba numa piada zen.
pulos do macacos, moquecas de peixe
com amendoim e exercícios telepáticos.
sons dos pés batendo firme sobre o chão,
grão das gritarias noturnas, abdução.
pupilas, papoulas,
papo com doulas
e noites de chás.
desejo da eternidade,
despejo da eternidade.
ninharias, palavras, coices:
murro no escuro da caverna:
nenhuma prisão, flor, perna
esconderá a mordida das foices.
javalis bebendo água
no charco da pupila.
sol, sangue quente:
corações saudando
o vento no capim.
serenamente incinerar
a segurança aparente
dos planejamentos.
as fobias, o caos
de cimento
e seu sufocamento ígneo
sejam apaziguados
na saliva antiga
da mãe aquática.
totem & tutano,
tu estando aqui:
tudo bem.
todo poeta
se perde com mapas,
é míope e mastiga
espinhos e pétalas.
todo poeta
está em guerra
& paz consigo,
urra e berra,
debaixo do sol,
se nutre do sangue
do umbigo da terra.
todo poeta
é uma puta
consertando
bicicleta.
todo poeta é holden
apanhando um punhado
de estrelas suicidas,
apunhalando coelhos
dos mágicos caolhos .
todo poeta bebe
com a morte e foge
com as equilibristas.
proponho um esquema:
troco soluço e problema
por um monte de poema.
proponho uma escama:
o silêncio, pachamama
e um verão na cama.
transmissão radiante, místicas
bolivianas partilhando bolas de gude,
crianças assobiando e o sol bebendo
e bebendo copos de suco do céu alaranjado.
fumaça azul, saudade e aeroplanos
guardados/grudados no calcanhar.
meu carma adormecido
no ovário da papoula,
cama aquecida
com o roçar
das peles.
medicina da alegria
no riso incontido:
as nuvens dizem
uns mistérios
do ar.
e fico pensando quem
vai pegar o trem
que leva a lugar
nenhum
o corpo que sente
não é uma máquina.
o corpo que santo:
sangue, seiva, ar
) o corpo ( y ) o canto (
a montanha também
tem seus pensamentos.
neblina, poeira sacudida
pelo ar, grão das vozes
de morfina da manhã.
buda deitado mascando
sementes de cânhamo,
manto das árvores
que bailam.
paz & paranóia, a máfia
lambendo os olhos solares
das vacas azuis sagradas.
lâmina do pensamento
boiando na carne do rio.
gritaria, insetos dançando
na gruta, céu da boca nublado:
plantas dos pés germinando.
teatro da música eterna, ouçam
o trabalho das fricções, a cidade
evaporando lamentos e sonhos,
assobios e assobios e assobios.
carcaça e cárcere, cachaça e sol
costurando doidices de pedra
na boca dos macacos.
ruminações, ramas
verdes, apesar.
dança rodopiante,
voz da galáxia
mais distante
do umbigo.
daqui pra lá:
prana, pular
ondas, polir
medulas.
daqui pra lá:
prumo, lar
sensível, öm,
ir até o im-
possível.
a esperança
é uma onça
subindo
em árvores
a esperança
é uma onça
nadando
n'água clara
a esperança
é uma onça,
pequenina e
forte, uma
criança.
amor divino,
divina amora:
hora da canção
de eros & aurora.
mulher azul
do horizonte,
homem verde
debaixo do chão.
vento assobiando
entre as árvores,
vento dentro
das pessoas.
ar sagrado,
ar sagrado,
ar sagrado.
tartaruga, rosa rugosa:
haverá sabedoria, sapo
batendo papo na porta
do crânio, uma magnólia
e delícia que se renova.