quarta-feira, 25 de setembro de 2013

nem o chumbo do passado,
nem o chumbo do futuro.

só o mambo do presente,
só o mambo do presente

e sobre a tumba do ego
uma rumba, outra rumba.
o que eu chamo
de sorte é um
toque ligeiro,

estar inteiro
numa percepção
singela:

nem lembrar
da morte

r e s p i r a n d o

no ritmo
do riso
dela.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

alegria sem causa,
amor com asas
ultrapassando
os muros das casas
dos egos feridos.

alegria sem causa,
mares e abrigos,
acolhimento
e ouvidos.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

árvores viajam nas profundezas,
raízes sondando os sonhos
da terra, paz aquática
nutrida nas delicadezas.

árvores viajam lentamente
na barriga dos pássaros,
passos firmes no céu imenso,
incenso povoando a mente.

árvores viajam no sangue,
nos guinchos dos saguis,
árvores me começam
e abraçam minhas filhas.
para ficarmos nus
é preciso desatar
todos os nós

corpos inteiros,
almas plenas
na dádiva presente

e na memória
nenhuma dor
será alimentada.

para ficarmos nus
é preciso a risada
do lótus azul.

sábado, 14 de setembro de 2013

com amor amansar
um pedaço de mundo
e nele se instalar.

inundar de sonhos a vida
numa defesa contra a morte
antes da morte, cotidiana.

sorte do louco, sorte:
ouvir muitas águas
correndo, correndo.

cultivo erótico da jornada
rumo ao umbigo do sagrado.

poesia, eco do afeto:
flutuação dos leopardos
atentos às perdas das pérolas.

experiência contínua, garota
nua comendo amoras, amores
salivando sobre as auroras.
li o silêncio todo
li o silêncio todo
li o silêncio todo

deitei, deitei e fui
coberto de lodo.

uma livre adaptação de trecho de black elk (1863 - 1950)

deixe-me ouvir
as lições escondidas
em cada folha e rocha.

eu busco forças
não para ser maior
que meu irmão e irmã

mas para lutar
contra meu maior
inimigo, eu mesmo.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

estudo dos modos de nutrição dos delírios

inspira e respira, maninha,
andando para lá e para cá.

oxigênio e movimento
são levitações.

equilibra a fome de afago
sem apego, exercita o amor
entre as devastações do incêndio
e as águas calmas que excitam as almas.

grita nos ritos das grutas e das ruas,
rodando no samba das sombras.

maninha, tira cochilos na morada divina
e, ao acordar, não acompanhe a caravana
de pessoas tristes, mas cante e ame.

conseguir é seguir, maninha, com raízes
e sonhos na terra entre ervas daninhas:
a felicidade possível é uma benção,
invenção para muitas noites e dias.

delírios são flores, maninha,
no útero azul do futuro.
nossa respiração
salta o muro.
menor ideia sobre a dinâmica
da escritura do vento nos ouvidos
e espalhando meus cabelos

menor ideia sobre a distribuição
das plantas e estrelas ao redor
das fogueiras nas praias

menor ideia sobre a noite longa
que se estende nas quedas
dos anjos e das cachoeiras

menor ideia sobre a vertigem
do ego devorando as pernas
das aparições carinhosas

menor ideia sobre a gestação
dos diamantes na língua
perdida do amor

menor ideia sobre a geladeira
que acolhe as lembranças
das cidades solares

menor ideia sobre a cabeça
gigante que o martelo
do tempo acerta

domingo, 1 de setembro de 2013

conte-me dos horrores,
não recuarei. seguiremos
no barco bêbado da noite
embalados pelas canções
das vespas e dos estômagos.

conte-me dos horrores,
não recuarei. seguiremos
no tapete voador usado
que guardei como vinho
para soluços e festas.

conte-me dos horrores,
não recuarei. seguiremos
no elefante perguntando
ao pó sobre nossos dias
entre cinzas e sonhos.