sexta-feira, 31 de maio de 2013

equívocos maravilhosos

a tarde de marduk
com o leopardo.

a passagem de volta
da mão de kishar.

a audácia de javalis
com a cachaça.

a leitura do tao
da mímica.

ridendo castigat mores

ah, coração, que engano.
não me diga que nada
arrebenta a hipocrisia
e o aço.

pois minha irmãzinha sorri,
sem briga, sem embaraço.
apronta as tintas e tonta
diz: palhaço.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

não, não sou simpático
a nenhuma supremacia.

gosto do território tático
da pele dela super macia.
sensações, sensações:
que os sons nunca cessem.

sanda, sendas, sondas.

ondas que o duende compreende
calmo na cama de lama de sua alma.
a lua anda
comigo.

crescente,
cheia, nova,
minguante.

a lua, um abrigo.
irrigo devaneios,
no bingo não brigo.

numa de suas crateras,
esqueço meu umbigo.
usamos telepatia, mas
vez ou outra ainda ligo.

no dia que perguntei: qual
o número de teu céu, lua?
ela disse, e ainda falou: I go, contigo.
você cometeu harakiri e o show
ainda não chegou na metade.
teus amigos fodem cabras,
fabricam uísque, usam máscaras
de jorge ben 10. talvez seja
tempo de passear num carrossel,
visitar a república tcheca, deitar
no gramado nos ombros de tua irmã.

explosão nas trevas

clarão de afetos sábios,
grandes e pequenos lábios:
com mamífera no chão de casa.

brasa donde bebo, longo amor
que sinto. não nos falta pernas,
almas, tonéis de vinho tinto.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

aurora & loucura,
canções de cura
a toda hora.

o passado é presente.
o futuro, um gigante:

dorme demente,
um anão entre
carvão e diamante.
passos lentos, botas velhas.
deambular, pouco labor.
sabor do vento, pétalas.
pupilas & pontes, amor.

atravessarei como ubu rei:

a travessa maravilha tristeza,
a rua da música aquática,
a avenida sol da escuridão,
a praça claridade enigmática.

terça-feira, 21 de maio de 2013

os poemas de daniil kharms
quebraram a vidraça.

o poeta, com razão louca
e coração banguelo, soprou
orações para as hienas.

stalin & seu bigode
jogaram o poeta na prisão.

o bigode faminto de stalin,
ensopado de sangue, devorou
o poeta até a carcaça,

mas nunca encontrou
os sonhos e devaneios
que hoje dão passeios
pelos ares de moscou

e que as moscas,
como se bêbadas
de cachaça, fazendo
arruaça e com piruetas,
espalharam pelos planetas.

ray charles chaplin

cego e mudo,
louco. pouco
a pouco, tudo
inundo, como
vagabundo
amoroso,
fervoroso
com música,
gesto, gozo.
nove profetas
abrigados
nas montanhas

mamando
nas tetas
de cabras
cósmicas

munindo
as teias
de vermelhas
aranhas

nove profetas
acompanhados
das onças

deambulando,
dançando
de mudança

pois sempre
jogam pedras
as crianças.

domingo, 19 de maio de 2013

o instante existe.
por que eu canto?
sou alegre, sou triste:
um pateta.

tenho febre, fobias,
não tenho neta.

alice me disse
para esquecer das palavras.

falou também da folia
e logo ficou muda, ficou
louca e beijou minha boca.

estive quieto, estive
agitado, alma vermelha
feito brasa.

alice com os olhos
me disse:

o silêncio é um colchão
no telhado de casa.
o instante gira
qual dervixe extasiado.
não conhece futuro, passado.
apenas inspira, respira.

não rumina o antes,
não mastiga o depois.
não dá nome aos bois,
nem relembra cervantes.

o instante grita, se agita
no peito, ilumina qualquer gruta.

o instante é uma fruta
que comemos com respeito,
sem medo.

o instante é um presente,
uma dádiva, um vagalume
que se enche de luz e escurece.

vê se não esquece:
o instante é mutante.

amar(temática)

preciso de duas
mulheres para uma
homenagem a três.
gerusa carregou-me
para a nau dos loucos.

aos poucos, com que encanto,
jogou longe saia, sapatos, juízos.

debaixo da blusa, tatuada
entre os seios, ela tinha
uma medusa.

por um triz, quase
virei pedra. não
cheguei a tal,
virei pau.

o lavador de pratos

nunca o vi trabalhar
sem assobios.

ria praticamente
de qualquer coisa,
principalmente
de pratos que caíam.

tinha medo de trovão,
não temia nenhum patrão.

sempre sincero
como sabão e água.

estava juntando
duzentos reais
para uma passagem
para o maranhão.

ontem me disse,
ouvi a história mudo:

gastou tudo com chocolates,
queijos e vinhos. foram nove
horas com a loira vizinha
que nada sabia de cozinha.
e de repente
eu era uma formiga
na barriga de uma deusa.

noutro instante
era um elefante nas nuvens.

só então
me transformei num gnomo,
atômico e belo, seguindo
para o cume de um cogumelo.

estranhas entranhas do acaso

uma pedra, uma hidra
um casulo, um casaco.

a flor, o cavalo, asas.
serpentes, pontes, pinturas.

um centauro, um sentinela
uma floresta, uma sombra.

um samba, um jambo
um mambo, uma manga.

monges, ninjas, poetas,
profetas, ciclistas, iogues.

bilhetes da deusa e do mendigo
no umbigo do ocaso.

hastes das ervas, desenhos
nas trevas das cavernas.

mandíbulas das nebulosas,
nuvens, insetos, patos, potes
de ouro perdidos nas íris
das multidões solitárias
e silenciosas.

amor & água

a dor ensina
um macaco cabeçudo.

o punho cerrado do cosmo
guarda um bom cascudo.

fiquei mudo, tive medo
de partir cedo
pela estrada de estrelas.

hoje rio, rio, rio.

o coração bate, late.
é um iate navegando
no sangue e no fogo.

riso franco, pupila amena,
aquele esquema:

não há problema
gigante no universo
se há peito aberto,
sem mágoa:

tudo flui,
pra lá e pra cá,
amor & água.

prosa do umbigo (16h20)

essa febre, essa febre.
garganta inflamada.
sou teimoso, nervoso.

minha mãe com enxaqueca,
segui com ela, febril, para
a emergência. depois foi
minha vez. a médica
nem me olhou no olhos.
um xamã chora pela falta
de sensibilidade e afeto.

em casa, à noite, suor frio,
peso, dor, sufoco, agonia no peito.
falo sinceramente com krsna que dança,
jesus sorridente, buda da compaixão.
sempre tive medo de meu coração.

acordo bem, até vomitar, ficar pálido,
lavado de uma cachoeira terrível e triste
de meu próprio corpo dolorido, aviso.

com braços dormentes, eletrocardiograma
esquisito, enzima cardíaca cem vezes além
do que convém, choro, medo, oração feita
na hora pela melhora do corpo e d'alma:

"cuida de mim, mamãe terra.
cuida de mim, papai sol.
beijem meu rosto calmamente.
perfuma minha mente, girassol."

eu de pé, com fé, fazendo piada
sobre alienígenas e mistérios da ciência,
estava ali, infartado. meu espanto,
espanto dos médicos com seus olhos
assustados para o sujeito risonho
dizendo que jogaria futebol
e daria cambalhota.

cateterismo feito, chegou a vez
da mente descansar dos saltos
do peito, a mente feito vespa
assustada, mãos agarradas
nas mãos de minha mãe amada.

apredizado da paciência, foi
preciso aguardar o ecocardiograma.
um dia, dois, três, o medo, quatro, cinco.
o silêncio, o conforto materno, o silêncio,
o mantra repetido baixinho, um ninho
de passarinho azul batendo, batendo, batendo.

gel no peito, sala fria, pessoas quentes
e bondosas. desta vez, médicos e enfermeiras
parentes de pajés e xamãs: me olhavam
nos olhos, sabiam meu nome, construiam
pontes de energia de compaixão, torcida,
fé, almas caridosas trabalhando muito além
dos níqueis do cassino. eu, coração ameno
desde menino, novamente menino, misturando
medo e esperança, querendo escrever e cantar,
dançar na chuva feito criança novamente nascida.

vi meu coração em preto & branco,
como um bebê no ventre da mãe.
forte, movimentado como um oceano
cheio de doce ímpeto, perto do esperto
cenário da energia bondosa, vida nova.

o tempo inteiro, a cabeça atenta, ativa.
não foi gordura, sendentarismo, ou qualquer
coisa parecida. a cannabis sativa me levou
pra muitas viagens, mas desta vez foi uma
passagem para uma morte ritual: infarto.
este foi meu novo parto, novo nascimento.
pensamento voando no firmamente, singrando
por nove céus, descendo fundo nas raízes das árvores.

infarto, parto, passagem, ritual.
uma viagem em que fui e voltei.
para andar no caminho do bem,
para ficar zen, para sorrir e chorar
para corar e pintar o mundo com
piadas e poemas, sem receio de problemas.

tudo é grão, tudo é grão. somos um.
eu continuo por aqui, comendo cajá,
acerola, carambola, jambo, caqui.

no sangue da terra viva, me movo.
meu sangue se mistura ao cosmos.

nasci de novo, agora.

definitivamente um macaco
doido e feliz movido
por amor & água.

gratidão, gratidão.
pois o primeiro
mágico é o amor
atraindo os seres
uns na direção
dos outros:

virtude oculta
atravessando
oceanos.
quando os meus olhos fecho
deixo acesa a águia bebendo
água na curva ensolarada
da minha alma: não pergunto
pela origem, pela vertigem,
nem me importa o desfecho.

travessia, mudança na dentição,
itinerário despreocupado com
o horário em que a águia
cospe fogo no coração.