domingo, 25 de novembro de 2012

sabedoria da rã
taoísta e brotos
de capim entre
as costelas e o
sono sossegado
do pêssego e a
nuca da jabuticaba
onde a abelha
lambe o açúcar
sem se machucar.
homem velho
olhando a geladeira
e a vida do abutre
que circula ao redor
das árvores míticas
que perfuram a terra
com as raízes e o céu
com seus galhos e olhos

homem velho

arrancando sorrisos
da memória banguela
e costurando sobre
as costas do inverno
um terno delicado
com os rastros do sol
ainda grudados na pele

homem velho
cavando as montanhas
enquanto o oceano
cospe suaves sopros
em seu coração de ouro
banhado pelo cheiro
de alecrim selvagem
e afeto lunar.

princípios de manutenção dos estranhamentos

coice de estrela
na caixa dos peitos

carcaça de sonho
na terra úmida

beijo de aurora
na triste pupila


panfleto de fogo
na esquina da torre
de observação

coração de tigre
na vibração dos dentes

divindade de planta
na cavidade dos tímpanos

tripulação de peixes
na loucura dos olhos

boca de leão
na cabeça lúcida
do bancário.

domingo, 11 de novembro de 2012

fique quieto, disse
o orangotango miniatura
que apareceu
no meu ombro esquerdo
há nove dias

corte os cabelos
da alma, ame
a respiração
perto das laranjas

e das uvas

ouça
muitas águas.
o azul permanece azul
apesar das moscas e do tédio
através do espaço

adiante
um velho escocês
com olhos de jaguar
compõe canções lentas
para a próxima migração
das baleias azuis


o azul permanece azul
ao redor da pupila onírica
da ninfeta anarquista

zumbido
das guerras interiores:
tempestade que amanhece
no antebraço, coragem
do grão no ventre da terra
fértil e doce.

o azul permanece azul
água profunda do útero
aquecida e circulando
na medula e nas asas
da libélula.
oração que aprendi com uma tartaruga
 

que o dia seja
um diamante,
um manto coberto
de amor e amoras

que a noite seja
uma cereja,
uma cerveja gerada
pelo cosmos e gelada.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

nasceu e andou
e parou pra coçar
a barriga

observou
as pessoas
e os sapos

sorriu,
agradecido,

por existir
o infinito
e as águas

dormiu
sobre o dorso
do leopardo

sonhou
o umbigo
do elefante

sumiu
na soma
das sombras

e nasceu e andou
e parou pra coçar
a barriga.
ando exposto
à ternura
e às tesouras
(ainda caio em poços).

carrego comigo
garrafas de água
e uma mágoa ambígua.

anfíbio e filósofo:
quase sempre esqueço
o endereço e os fósforos.

domingo, 4 de novembro de 2012

comunicação da tecnologia dos deuses

beijo na alma
e a força eletromagnética
do planeta e moveremos
gigantescos blocos de pedras

energias:
os mapas são muitos cabelos.

crânios de ursos e mágicos
numa câmara
atingida pelo sol
no solstício de inverno

espíritos
numa migração cósmica
através da fenda do cisne.
osso que recobre a pele

os sumérios sumiram
com as pérolas
e a telepatia
de alta velocidade

as canções
da invasão alienígena
e os desenhos do projeto

por um teletransporte
público

a mente sonha
com tartarugas
e fogueiras anciãs

polegares
coçando os olhos
da floresta

biografias das folhas
perdidas nas ventanias.
trouxe
do supermercado
um pouco
do universo
em conserva,
mas esqueceu:

a erva,
um louco
e um verso
alucinado.
pensamentos descalços
num passeio de bicicleta

enquanto no coração
tosse e amor
se revezam.

oração silenciosa
da rosa rugosa:

nenhuma rusga
com o musgo.
o futuro e as formigas
cobrem minha barriga

a noite abre a boca
a boca abre a noite

hora pacífica,
asas, éter:

filme ancestral
no tornozelo.
pouco medo
instalado
na medula

fico à toa
de papo
com a papoula.
mulheres magras, bagres
revoada de tigres
e ogros.

lembrar das sombras,
treinar os ombros.
um cabrito
guarda no estômago
o capim do mito.

um cavalo
come algas e o grito
de águias.

assobio
do tambor

no tímpano.

uma xamã
sobe na árvore lilás
para amamentar
a manhã.
a loucura é um sopro
no ouvido. ovíparos
ao redor da lanterna
e um terno incendiado
azul como um domingo.

hortelã no hotel lunar,
abacaxi e papoulas.

um pomar de acerola,

pulmão cósmico generoso.

grous repartem
lagartas chapadas de haxixe.

a noite é uma formiga
de tocaia, sobre a barriga
dos últimos chimpanzés.
há uma porta
na folha: olha.

a chuva molha
a passagem.
a viagem é
torta.
vidente vagando
com um casaco arcaico

dentes estragados
e bagos de uva

óvulos, violetas
e as asas da coruja

medula, sangue

e a sabedoria da seiva

viagem vagarosa:
as pernas ouvem
o ruído da rosa.
ruminando
a grama escura
do abismo.

coração amargo:
nenhuma ameixa
me deixa sereno.

uma leoa pousou
nos meus ombros

e sumiu.

desordem do dia:
nuvens de ideias
são vespas
numa garrafa vazia.