segunda-feira, 15 de outubro de 2012

um macaco, uma coruja

a morte acontece,
como o dia e a noite.
palavras e dentes
caem no chão.

um pulo, um urso
o dorso de um tigre
um ogro tomando pílulas

num ônibus noturno.

um poema, um ruído
o silêncio do vidro
folhas verdes
no coração.

um macaco, uma coruja
desenhando estrelas
nas gotas da chuva.

um sussurro, um eco
um treco qualquer:
um soluço.
as ervas
me telefonam
das trevas

e desenham
a retina
do breu

antebraços
dos chimpanzés

cobrem a lua

e escondem
um carvão
entre os dentes
de deus.
de volta para o futuro recife

eu tomo um gole de ácido
tenho a gula de asas
ainda ando descalço
apesar das ruínas das casas

milhões de carros

atropelam minha alma
não tenho calma
neste inferno cheio de prédios

porcos e urubus
lotam os elevadores
a cidade arregala os dentes
e cospe em nossos amores

chove merda
nos corações dos pedestres
e a polícia toca fogo
nos bilhetes das passagens extraterrestres

as pernas saem do chão
e pisam no teto
de concreto sobre o mangue
e sua monocultura de torres

estou cego e vejo
as faíscas e lampejos
das caronas com os discos-voadores.