quinta-feira, 26 de junho de 2008

anotação número 1

o tempo escorrendo como uma noite doce, meu bem. meu olhos reclamam a noite e o lugar, falam do hotel perdido no tempo: feito o sono: o coice da lembrança mais distante.

fiquei com esses versos na cabeça, desde ontem - não sei muito bem o que isso significa, ontem é muito longe daqui. eu apenas lembro que ouvia os irmãos tranquilos, os que cantam suavemente:
os irmãos soltavam balões. eu ouvia esse pássaro melancólico e escrevia numa só respiração.

poucos dias têm sido assim, penso.
escrevo bem pouco, como se fosse o velho chinês com sono, subindo montanhas.

não tenho me alimentado.

preciso de um gravador, comprar fitas k-7.
preciso organizar isso tudo.

sábado, 21 de junho de 2008

o choro da senhora v.
abre a noite e reparte
alguns sons sobre a mesa
colocada na esquina

a senhora v.
olha o céu-acima
e volta a lembrar
do dia

sangue, alegria arriscada

canções da tempestade
invandindo o corpo duplo - a carne,
território sob a chuva colorida e rápida
do prazer: as vertigens, as vertigens.

assombro
circulando a brevidade
dos rostos sérios

desvario,
a dança desacordada,
a senhora v.

à deriva, num devir
ensolarado entre as pálpebras
de animais lentos e calmos

a senhora v. corre
e toca as passagens elétricas
das artérias do tempo: a febre, a mente.

o mantra espontâneo
da pele, das pernas
cobrindo a paisagem azul e nova:
a senhora v. não-dorme.

sábado, 14 de junho de 2008

como um dia qualquer, um domingo azul e morno. aperto os sapatos contra o chão, sorrindo docemente ao encontro de toda gente. a cidade passeia por meus pulsos. olho novamente a paisagem que me deixa livre. como uma manhã nascendo no rosto limpo do afeto. eu olhos os olhos dela com surpresa e vejo tudo claro e de outra maneira. eu caminho por entre ruas e rins, vértebras roídas pelo buraco na cabeça. os sons de um dia qualquer. a velha brincadeira de criar futuros possíveis e olhar as nuvens se desfazendo contra meu peito. um tempo perfeito e você tem um domingo e brisas.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

o velho renascendo
com seus dentes cheios de tédio e raiva
(a agressão delirante de um dia qualquer).

a noite suja dentro da cabeça
rodando rodando rodando rodando

pessoas caindo
sobre o asfalto
de ontem

os carros atropelando
os sonhos mais simples

a vida seguindo
cometas absurdos na pele
do tempo

meus dedos
tocando sóis distantes

cheiro e calor, fúria dormente
da estrada.