segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

dizem que dona maria de lourdes
fica ausente como uma noite sem grande mistério.

cigarras e enormes mosquitos pendurados na janela
e os cabelos no vendaval de um sorriso.

lourdes acende um cigarro

solta a fumaça
como num eterno adeus.

domingo, 30 de dezembro de 2007

dois-zero
zero-oito

desenhou isso na parede e ficou pensando num outro ano.
todos sabem que ele não acredita em revoluções.
pensou noutro ano, dormente, com uma lâmina.
ficava riscando o quarto - dizem que até criou uma série de
desenhos baseados no susto que teve noite passada.
mas já cobriu com alguma tinta vermelha esquecida
pelo antigo morador chinês.

ficou disfarçando o cansaço e a tristeza com um outro ano riscado
e um vídeo barato sobre elefantes e tartarugas.

não gosta de bichos e com força lembra o nome de alguma espécie.


gato.

não gosta de gatos e da presença macia, sem vertigem.
os gatos não gostam dele.

pássaro.

teve uns dois presos e engolidos pelo tempo. não lembra a cor.
não terá novos pássaros. nunca teve.

gafanhoto.

gosta da cor e da música. não encontrou muitos na vida.

pato.

não sabe desenhar. não atirou em nenhum. nunca comeu.
vê na tv. anda como um.



viu um comercial sobre pós-utopia.
desde então dorme embaixo da cama e nunca acende a luz.

achou os antigos dentes.
disse que a boca é um um desvario,
alguma brincadeira sem início.


esqueceu o outro ano em cima do cinzeiro, em brasas.
então soprou o chão como se fosse canção-sem-data.

adormece com a poeira. não sonha.
cruel
como os lindos olhos
do passado

devastando o sossego.
o sol esquartejado
sobre os ombros de meu amor
e a faca lúcida
em sua pele.
a música possível
da medula

elétrica e doce
como uma grande chuva
sem memória

incinerando
os pensamentos mais leves.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

vejo mulheres chorando violinos
e alguns sapos

breves soluços sagrados do ventre

a maternidade é uma ilha.
morrer lentamente
como uma grande estrela agonizante

dentro do tempo.

cair friamente
no esquecimento do século

e dormir.
coração ameno
desde menino.
conversando
com o vento

erguendo um
espírito novo
sobre os braços.
desconcerto e piedade

alguns sussuros por esta noite

e um aceno

algo sereno para o passado

a sabedoria doce dos pássaros

novas mãos caminhando por mim


assobios.